Saber que as chinchilas têm 20 dentes (figura 1), pode ser curioso para muitos. Agora, que elas têm problemas bucais e precisam ir ao "dentista," isto pode parecer brincadeira. Mas acredite, chinchilas precisam ir ao dentista. E como saber que uma chinchila está "dor de dente"? No quadro abaixo são descritos os principais sinais relacionados com problemas orais.
> debilidade geral, apatia > diminuição da alimentação, dificuldade de engolir ou alimentação seletiva > salivação (babando) > pelagem feia > perda de pêlos ao redor da boca ou dos membros anteriores > desarranjo intestinal, alteração das fezes dentes. |
As chinchilas são roedores essencialmente herbívoros, ou seja, na natureza, elas comem grande quantidade de folhagem de baixa caloria durante o dia sendo que seus dentes exercem um papel fundamental na mastigação. Um outro detalhe importante é que os seus 20 dentes estão constantemente crescendo, logo, é durante a alimentação que os dentes são gastos, mantendo um equilíbrio entre a taxa de crescimento e desgaste dos dentes.
Figura 1: Esquema dos dentes dos chinchilas |
Acredita-se que a mudança da dieta natural (folhagem com poucas calorias) para uma dieta hipercalórica (ração, grãos, algumas frutas, etc) seja uma das grandes responsáveis por um dos problemas bucais mais freqüentes: a maloclusão ou mau posicionamento dos dentes. Outras causas para a maloclusão incluem traumas, doença periodontal, abscessos radiculares e desproporção entre mandíbula e maxila, que podem ocorrer de forma isolada ou associada à alteração da dieta. A maloclusão ou defeito de oclusão pode ser anterior, quando acomete inicialmente os incisivos (figura 2) ou posterior, quando acomete os dentes posteriores (figura 3), sendo esta última a mais comum nas chinchilas.
Figura 2: imagem frontal da cavidade oral de um chinchila onde se pode notar o crescimento desigual dos incisivos, alteração de cor e desvio dos incisivos superiores (maloclusão). |
Figura 3: seta indica dente primeiro molar superior direito fora do alinhamento, caracterizando a maloclusão posterior. Este dente fora de posição sofre um desgaste irregular levando a formação de pontas que machucam a bochecha. |
Uma dieta rica em calorias faz com que as chinchilas comam menos. Assim, os dentes sofrem menos atrito e o desgaste é menor. Além disso, os movimentos de mastigação podem ser mais de moagem do que de trituração, proporcionando menor atrito dos dentes com conseqüente menor desgaste. A própria textura do alimento também influencia no desgaste dos dentes. Dessa forma, a taxa de crescimento supera a taxa de desgaste dos dentes levando ao alongamento dental ou sobre-crescimento dental. Quando a coroa cresce, a eficiência da mastigação diminui e os dentes podem sofrer um desgaste desigual levando a formação de pontas dentárias que causam trauma nos tecidos moles da boca (figura 4).
Figura 4: imagem de boca de chinchila, com adição de efeitos para facilitar a ilustração das pontas dentárias. O círculo superior realça um dente superior posterior gravado na bochecha devido ponta dentária (em destaque no círculo inferior). Setas indicam a ponta dentária. |
Estas pontas causam dor, diminuição da ingestão de alimentos, salivação e apatia, o que leva a debilidade geral, perda de peso, desidratação, hipoglicemia, podendo culminar com o óbito. O sobre-crescimento dos dentes também ocorre em direção apical, ou seja, em direção ao osso, sendo este também mais comum nas chinchilas. Isto leva a inflamação das estruturas de formação do dente, o que pode ser bastante dolorido, levando a apatia, diminuição da alimentação e debilidade geral. Outra conseqüência do sobre-crescimento apical é a alteração na orientação do crescimento dos dentes que literalmente, podem começar a crescer "tortos", alterando sua posição normal e favorecendo o desgaste desigual dos dentes com conseqüente formação de pontas dentárias que levam a lesão nos tecidos moles (figura 4). Outra conseqüência é a formação de espaço anormal entre os dentes favorecendo o acúmulo de resíduos alimentares e placa bacteriana e predispondo ao aparecimento da doença periodontal que, por sua vez, pode levar a abscessos (figura 5).
Figura 5: chinchila com aumento de volume sub-mandibular resultante de abscesso dentário. |
Como se pode ver, as alterações são complexas e geralmente se agravam à medida que os dentes continuam crescendo. Em alguns casos, o sobre-crescimento apical pode comprometer de tal modo as estruturas de formação dos dentes que um ou mais dentes param de crescer. Isto pode fazer com que os dentes fiquem de alturas diferentes (desnível oclusal - figura 6) o que dificulta a mastigação. Cada evento que dificulta a mastigação ou alimentação tende a piorar o quadro, pois menor será o desgaste dos dentes.
Figura 6: imagem de boca de chinchila destacando os dentes superiores do lado direito que estão de tamanhos diferentes (setas amarelas - desnível oclusal) enquanto os do lado esquerdo estão com a mesma altura (seta branca). |
Diante de um ou mais sinais apresentados no quadro 1 deve-se procurar um médico veterinário com experiência no atendimento de chinchilas, e preferencialmente com experiência na área de odontologia. Muitos pacientes são tratados erroneamente por mero desconhecimento da existência de problemas odontológicos. Por vezes, o fato dos incisivos estarem "normais" leva a crer que os demais dentes também assim estão e tratamentos para estômago, fígado, fungos, conjuntivite são instituídos com base nos sinais apresentados, sem contudo, surtir efeito.
A anatomia bucal dificulta o exame clínico que inicialmente pode ser feito com auxílio de um otoscópio. Porém, para um exame clínico completo é necessário anestesiar o paciente para ter acesso aos dentes posteriores. A avaliação radiográfica também é fundamental para estabelecer o diagnóstico, principalmente o de sobre-crescimento dental.
O tratamento é feito também sob anestesia, sendo que as chinchilas toleram bem a anestesia inalatória que é preferível à anestesia injetável, pois geralmente quando elas têm acesso a um serviço veterinário, já se encontram bastante debilitadas. Além disso, a anestesia injetável oferece maior risco pois deverá ser metabolizada pelo paciente para que este se recupere. Mesmo a anestesia inalatória sendo segura, deve-se ponderar as limitações da mesma nas chinchilas, uma vez que não é possível entubá-las, garantindo uma via aérea livre em caso de emergência; a monitorização das funções vitais (freqüência cardíaca, traçado eletrocardiográfico, pressão, dentre outras) também é dificultosa, dado o diminuto tamanho das chinchilas. O controle da anestesia fica por conta da avaliação do relaxamento muscular e freqüência respiratória. Mesmo diante destas limitações e do estado geral debilitado no momento da anestesia, esta ainda oferece nível de segurança satisfatório. Agora, em muitas situações, não se tem muita escolha, uma vez que se o paciente não for tratado com certa urgência ele não resistirá por muito tempo sem se alimentar adequadamente.
O tratamento mais comum consiste da remoção das pontas dentárias e do ajuste oclusal (deixar os dentes da mesma altura). Geralmente o paciente responde bem ao tratamento, mas pode demorar até uma semana para voltar a comer sozinho, uma vez que mesmo tendo-se removido as pontas dentárias, as lesões nos tecidos moles demoram este período para cicatrizar. Portanto, deve-se tomar o cuidado de garantir que o paciente esteja se alimentando e se hidratando. Caso isto não aconteça espontaneamente, deve-se forçar a alimentação com papas de frutas ou até mesmo com ração amolecida. O uso de analgésicos e anti-sépticos bucais é recomendável na maioria dos casos.
Devido à complexidade das alterações bucais a que as chinchilas estão sujeitas e de, na maioria das vezes, elas serem atendidas tardiamente, pode ser necessário em muitos casos, tratamentos sucessivos, de tempos em tempos, para garantir a saúde e conforto bucal.
Espera-se portanto, que os proprietários de chinchilas estejam cientes dos eventuais problemas bucais desta espécie e se familiarizem com os sinais mais freqüentes destes problemas. Assim que um dos sinais for notado, um médico veterinário odontólogo deverá ser procurado.
A anatomia bucal dificulta o exame clínico que inicialmente pode ser feito com auxílio de um otoscópio. Porém, para um exame clínico completo é necessário anestesiar o paciente para ter acesso aos dentes posteriores. A avaliação radiográfica também é fundamental para estabelecer o diagnóstico, principalmente o de sobre-crescimento dental.
O tratamento é feito também sob anestesia, sendo que as chinchilas toleram bem a anestesia inalatória que é preferível à anestesia injetável, pois geralmente quando elas têm acesso a um serviço veterinário, já se encontram bastante debilitadas. Além disso, a anestesia injetável oferece maior risco pois deverá ser metabolizada pelo paciente para que este se recupere. Mesmo a anestesia inalatória sendo segura, deve-se ponderar as limitações da mesma nas chinchilas, uma vez que não é possível entubá-las, garantindo uma via aérea livre em caso de emergência; a monitorização das funções vitais (freqüência cardíaca, traçado eletrocardiográfico, pressão, dentre outras) também é dificultosa, dado o diminuto tamanho das chinchilas. O controle da anestesia fica por conta da avaliação do relaxamento muscular e freqüência respiratória. Mesmo diante destas limitações e do estado geral debilitado no momento da anestesia, esta ainda oferece nível de segurança satisfatório. Agora, em muitas situações, não se tem muita escolha, uma vez que se o paciente não for tratado com certa urgência ele não resistirá por muito tempo sem se alimentar adequadamente.
O tratamento mais comum consiste da remoção das pontas dentárias e do ajuste oclusal (deixar os dentes da mesma altura). Geralmente o paciente responde bem ao tratamento, mas pode demorar até uma semana para voltar a comer sozinho, uma vez que mesmo tendo-se removido as pontas dentárias, as lesões nos tecidos moles demoram este período para cicatrizar. Portanto, deve-se tomar o cuidado de garantir que o paciente esteja se alimentando e se hidratando. Caso isto não aconteça espontaneamente, deve-se forçar a alimentação com papas de frutas ou até mesmo com ração amolecida. O uso de analgésicos e anti-sépticos bucais é recomendável na maioria dos casos.
Devido à complexidade das alterações bucais a que as chinchilas estão sujeitas e de, na maioria das vezes, elas serem atendidas tardiamente, pode ser necessário em muitos casos, tratamentos sucessivos, de tempos em tempos, para garantir a saúde e conforto bucal.
Espera-se portanto, que os proprietários de chinchilas estejam cientes dos eventuais problemas bucais desta espécie e se familiarizem com os sinais mais freqüentes destes problemas. Assim que um dos sinais for notado, um médico veterinário odontólogo deverá ser procurado.
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